Quando o mercado tenta domesticar a arte

Quando o mercado tenta domesticar a arte

Existe um momento em que o mercado, encantado com o brilho de uma obra, tenta transformá-la em produto. Quando isso acontece, algo curioso se dá: a arte resiste. Ela pode ser vendida, catalogada, indexada em relatórios e apresentada em apresentações financeiras, mas ainda assim escapa.

O mercado prefere planilhas. A arte prefere ruídos.
O mercado busca previsibilidade. A arte cria risco e desvio.
O mercado cria métricas. A arte cria desconforto.

Há um entusiasmo crescente em torno da ideia de “arte com potencial de valorização”, como se fosse um ativo emergente. O raciocínio é válido. Patrimônio cultural pode, sim, ser tratado com inteligência financeira. Mas existe um limite delicado entre valorizar e domesticar.

A arte que gera valor de verdade não é a que se comporta. O tempo provou isso. As peças mais valiosas da história foram, no início, mal interpretadas, rejeitadas ou consideradas inúteis. O valor cultural nasce antes do consenso. O valor financeiro aparece depois.

Talvez o papel mais íntegro de quem transita entre arte e mercado não seja controlar a obra, e sim preservar sua potência. Mediar sem diluir, traduzir sem editorializar demais, transformar sem reduzir. O colecionador, o fundo de investimento e o curador olham para o mesmo objeto. O que muda não é o gosto, é a finalidade.

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